terça-feira, 10 de agosto de 2010

carta três.

                                Santa Luzia,10 de Junho de 1979.

     Mãe,

      Não vou mais ouvir nenhuma palavra de desprezo.Não vou ficar esperando melhora de uma situação que se arrasta por... Quantos anos devem ser? Ah! dezoito,a minha idade não é? tantos anos a ponto de ser "algo que nunca quis para mim", como você mesma diz.
      Não vou mais esperar aquele abraço,parabenizando meu aniversário.Nem aquele sorriso, por ter sido o primeiro da classe, durante nove anos consecutivos.Eu descobri: você não sabe sorrir.
      Não se preoculpe, ninguém irá "logo no final da novela", precisar de auxílio durante uma crise asmática ou te sufocará com um pedido para comprar um livro, já que "livro é coisa de mulherzinha".
      Não vá achando que o que acaba de ler é um desaforo.Não pense em como corrigir tal ato rebelde.Não se perca em devaneios...
      Quando abrir a porta de seu quarto e perceber seu "lençol favorito", forrando a cama, verá que deitado nela estarei e, se tiver sorte, terei ido.
       Sim mãe, não se apresse nem se desespere.O adeus será longo... para os dois.

       De seu único filho,

       Gabriel.

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