quinta-feira, 26 de agosto de 2010

carta quatro.

Jacira,

É inacreditável.Sua atitude não surpreende,porém, assusta.Pensar a que ponto chegou não é tarefa das mais fáceis.
Se coloque em meu lugar,e tente ver tudo como ficou para que eu veja.Quando todos, inclusive ele, não deram a menor importãncia para o momento que vivia, tive senso para entender que a oportunidade era de ajudar e não julgar.E a você, restou se apegar a única coisa possível antes do naufrágio que se anunciava em sua vida.
Não há arrependimento, no entanto, a mágoa é inevitável.Pensar que fui usado como muleta-sim,não passei disso- e que na primeira oportunidade você não pensou duas vezes e partiu em direção à tudo e todos que em um passado recente não lhe estenderam as mãos, é algo que fere como ferrugem.
Entenda,sua filha nada tem a ver com isso.Suas escolhas, inclusive, não levam o bem estar dela em concideração.Mas sim, os seus.Nada mais.
Torço para que a tempo, abra os olhos e veja como tal atitude indica o começo do fim.No entanto, caso naufrague novamente, não serei o bote salva-vidas.Definitivamente não.


Cleovan de Jesus.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

carta três.

                                Santa Luzia,10 de Junho de 1979.

     Mãe,

      Não vou mais ouvir nenhuma palavra de desprezo.Não vou ficar esperando melhora de uma situação que se arrasta por... Quantos anos devem ser? Ah! dezoito,a minha idade não é? tantos anos a ponto de ser "algo que nunca quis para mim", como você mesma diz.
      Não vou mais esperar aquele abraço,parabenizando meu aniversário.Nem aquele sorriso, por ter sido o primeiro da classe, durante nove anos consecutivos.Eu descobri: você não sabe sorrir.
      Não se preoculpe, ninguém irá "logo no final da novela", precisar de auxílio durante uma crise asmática ou te sufocará com um pedido para comprar um livro, já que "livro é coisa de mulherzinha".
      Não vá achando que o que acaba de ler é um desaforo.Não pense em como corrigir tal ato rebelde.Não se perca em devaneios...
      Quando abrir a porta de seu quarto e perceber seu "lençol favorito", forrando a cama, verá que deitado nela estarei e, se tiver sorte, terei ido.
       Sim mãe, não se apresse nem se desespere.O adeus será longo... para os dois.

       De seu único filho,

       Gabriel.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

carta dois.

Samantha,

        Sei que no dia cinco, portanto, há dois dias, comemoramos nosso décimo aniversário de casamento e fizemos - ou renovamos - nossas juras de amor.
        Sei também que toda comemoração foi idéia minha.Que você não fazia questão e que preferia algo mais discreto e reservado a familiares e amigos próximos.
        Por isso mesmo, tento imaginar qual será sua reação quando se deparar com esta última carta que lhe escrevo.
        É estranho e complicado, mas foi justamente todo esse alvorço que me fez decidir não mais adiar meus projetos.Sim, há muito espero por isso que tenho chamado de "súbita coragem de viver".
        Você deve pensar, e com razão, que fui covarde, por ter então, me casado e construído uma vida equilibrada, estável e, sim, na sua maioria feliz.
        Mas é justamente este equilibrio e esta felicidade que me motiva a ir, sem destino, sem rumo, sem tempo, sem você.Me desculpe, se puder.Mas preciso ser duro,pois, senão, pode ficar alguma esperança ou pelo meu retorno, ou pela minha decisão.Mas não.Vou,pois aqui não é o meu lugar.

Adeus,

Alfredo.