terça-feira, 5 de novembro de 2013

terapia. (última sessão)

Tudo é estranho, o mundo muda, a vida perde o brilho, você se sente só e vazio. Nada tem muita utilidade ou razão, e o futuro é uma abstrata palavra.

Sonhos são objetos distantes que não dizem muito. Projetos deixam de existir com uma rapidez impressionante e seu olhar, falar, andar e pensar estão irreconhecíveis até para si.

Força se busca em todo lugar provável e improvável. Se envereda a falar com o primeiro que dispõe de pouco mais que trinta segundos para tanto, e acredita (como acredita...) que o diálogo, a sensatez e principalmente o sentimento que nutre, serão suficientes. Tolice.

Mantém certa distância de lugares, pessoas, livros e discos, rotas e pensamentos, tudo em vão. Tenta fugir e descobre não ser essa a melhor estratégia, e que encarar (por um momento) também não. Se encontra diante de um horizonte deserto e com as mãos atadas.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

esqueça as aulas de
linguística, gramática
tradicional, latim e
introdução aos estu-
dos temáticos de li-
teratura.

seu sorriso não
depende disso.

sábado, 30 de março de 2013


 não fosse o
 alumbramento de
 te ver,
 seria uma fila
 de banco qualquer
 e o dia
 terminaria morno.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

do querer.

quero ler mais livros sobre Arte. quero beber menos. quero mais pôr do sol. quero me chatear menos. quero estar mais com meus amigos. quero estar menos no trânsito. quero estar um pouco mais com minha avó. quero estar um pouco menos estranho. quero viajar mais. quero menos roteiros. quero mais detalhes. quero menos respostas.

quero menos barulho. quero mais ruído. quero menos orgulho. quero mais libido. quero menos escuro. quero mais abismo. quero menos minuto. quero mais asilo.

quero entender menos. quero pensar mais. quero sorrir menos. quero chorar mais. quero calar menos. quero gritar mais. quero ver menos. quero imaginar mais.

quero menos e mais. quero menos mais. quero mais menos. quero.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Beleza de Perder.


Como pode, logo nos primeiros dias de um novo ano, quando todos estão (tentando pelo menos) com as esperanças renovadas, promessas, projetos e planos em andamento, alguém metido à besta se atrever em dizer que há beleza em perder, ainda mais em um mundo onde, por todos os lados, somos estimulados a compartilhar e curtir vitórias e ganhos? Calma, eu explico.
No último dia do ano que acaba de nos deixar, estávamos eu e uma amiga, preparados para irmos ao encontro de outros amigos, onde o tradicional ritual de “passagem” aconteceria, quando ao chegarmos à portaria do prédio, nos deparamos com seu carro todo arranhado, em um ato de extrema maldade e vandalismo.
Devido à avalanche de sensações, tamanho o impacto da cena que nossos olhos insistiam em não acreditar, ela, dentre tantas frases disse: “- É, que maneira de terminar o ano hein?” E foi exatamente aí, que seu problema se tornou meu também. Foi nesse exato momento que me veio a pergunta “ e meu ano, como termina?”
Fui um bom amigo, amante, irmão? Fui um bom filho, vizinho? Tive tempo para as coisas que gosto, para ouvir sugestões, críticas e elogios? Esqueci de mim quando preciso e soube reivindicar quando igualmente necessário? Ou não passei de um amigo médio, um amante chinfrim e de um irmão relapso? Que só me preocupei em falar, em nada reivindicar e pior, que nenhum tempo separei para aquilo que gosto?
Confesso, foi o momento de maior fragilidade, de maior nudez diante da vida e de tudo que ela exige de nós. Um balde de água fria na vaidade e presunção. E mais! Que ter certeza não é certeza de nada, que verdades duram até o próximo cafezinho, e que mentiras pesam uma tonelada.
Perdi meu chão. E sim, para muitas dessas perguntas não obtive, nem sei se vou ou quero, respostas. Perdi o ano? Não acredito. Perdi, possivelmente, a oportunidade de encerrar um ciclo, sem nenhuma dessas reflexões fazer. E o mais grave, começar outro da mesma maneira. Já pensou?
Quanto a minha amiga, o seguro irá cobrir os gastos do estrago. Quanto a mim, restou o seguro da Vida e a ansiedade de encontrar o que só se tornou possível (e sólido), depois da beleza de perder...